segunda-feira, 7 de março de 2011

Fevereiros!!!

Março é Fevereiro!
Pra mim, março é Fevereiro quando tem Carnaval! Já cantava Jorge Ben Jor: "Em fevereiro tem carnaval...tem carnaval..."
É tão Carnaval que esqueci que já estamos em Março!
E nesse esquecimento, no sabado quando entrei no shoping para nossas costumeiras compras de Carnaval... Comidas e filmes. Lembrei de Fevereiro passado quando fazíamos o mesmo e quando minhas cólicas começaram... nem imaginava que no Carnaval seguinte (este) eu estaria aqui não mais com cólicas (o que olhando agora, não era NADA... huahuahuahua) mas com o Câncer!
Por isso digo e repito: O mundo muda de cena em menos de um segundo!
Há um ano atrás!
Um ano apenas!
O que conseguimos fazer em um ano????
Pouco, muito pouco...
Em um ano não conseguimos perder aqueles quilos indesejados!
Em um ano não conseguimos dominar uma língua estrangeira...
Não conseguimos fazer um montão de coisas.... o tempo voa!
Parece que a Terra não gira mais em torno de si e do Sol... parece que ela corre como se estivesse brincando com o tempo de um pique qualquer como aqueles da infância.
Em um ano tudo mudou...
Olho no espelho e vejo uma outra imagem de mim mesma... sei que é uma imagem temporária, mas acho engraçado essa modificação... acho engraçado como achamos que dominamos a vida, o tempo, os sonhos, o destino... o caminho.
Acho engraçado porque é inexplicável, por mais que nossa intuição nos fale em silêncio... acho que ainda somos um pouquinho surdos... e só montamos o quebra cabeça da vida quando olhamos de um outro ângulo e esse ângulo nos mostra que as peças estavam ali e que tudo era tão óbvio, tão claro, acho que por isso não tive surpresas ou medos, mas apreensão... fiquei apreensiva de como seria tudo isso... foi como no primeiro parto onde se pergunta: você prefere normal ou cesária??? E eu lá sei! Nunca tive filho. Como será?
Assim, foi com o tratamento. Como será??? O que será??? Como vou resistir fisicamente??? Será que meu corpo vai aguentar toda essa carga???
E a apreensão passou, meu corpo resiste a cada sessão. Tem dias que fica mais cansado, tem dias que parece que nada aconteceu... e eu agradeço a cada dia que chego e que saio de lá... agradeço porque resisti por mais uma dose bombástica de químicas. E acho engraçado mais uma vez... logo eu que nunca bebi (salvo algumas poucas taças de sangria e vinho) e fumei ( salvo uns cigarros filtro longo e branco, porque achava chique... tolice!), logo eu que nunca me droguei e tinha aversão por remédios...
Anticoncepcionais! Nossa! Achava que aquilo era uma agressão ao meu aparelho reprodutor!!!
Remédios para dor... só em caso de dor extrema!
Nunca aceitei substâncias químicas em meu corpo...
Nunca quis colocar DIU kkkkkkkk achava que era algo estranho demais para o meu corpo... achava que ele rejeitaria!
Nunca quis silicone! "Isso não me pertence!" hehehehehehe
Lipos e outras intervenções... acreditava que não fazia parte de mim! E por mais que fosse para melhorar... sempre acreditei que isso me transformaria em outra Katia! E não seria mais eu! A única transformação que aceitava era a do tempo... a natural!
E hoje vivo me drogando hehehehehe literalmente... Ops! Drogas lícitas, porém, drogas!
Intervenções cirúrgicas... farei... ainda não sei quantas, mas farei! E dentre elas, a que precisei processar com mais cautela foi a retirada do útero... que é certa! Essa, embora não visível aos olhos, me pertence na alma e retirar esse órgão tão vital ao dom de perpetuar a espécie... me requer acertos intímos, combinações...
Tive filhos, sim... tive! Não os teria mais, talvez, né, pois não acreditava mais tê-los quando minha pequenina chegou e olha que foi uma chegada! Talvez o último presente dado pelo meu útero na força de me compensar por tudo que estaria por vir!
Pode parecer uma bobeira... é só um órgão sem função depois que se tem os filhos ou que se chega a menopausa, mas meu útero é um órgão querido, tão vital quanto meu coração, meu fígado e outros! Eu amo meu útero!!!
Nunca quis nem mesmo fazer uma ligadura...
E pensar em menopausa! Aff! Parar de menstruar!? Não me imaginava... conversava com meu médico ginecologista/obstetra sobre isso e riamos muito, porque eu, ao contrário de muitas mulheres... adoro menstruar! Isso sempre me deu a ideia de que tudo funcionava, de que o centro da vida estava ativo, saudável... vivo!
E olha que coisa!
Parar de menstruar não estava nos meus planos, mesmo sabendo que a natureza me tiraria esse evento há qualquer momento.
Fazer ligadura por opção... nem pensar! Apenas Deus decide quando é o momento de não recebermos mais nossos irmãos!
E agora... o quê que eu vou fazer??? Me perguntei silenciosamente!
Sem menstruar!
Sem útero e ovários!
Ó céus! Choqueiiiiiiii!!!
Mas, conversando eu comigo kkkkk chegamos à conclusão de que tudo isso é preciso! Tudo isso é necessário... e será uma outra etapa... outro momento... outra estória!
Uma outra etapa de apreensões!
Hospital, cirúrgias, retiradas... retiradas da alma!
E o meu médico ginecologista/obstetra???? Eu num centro cirúrgico sem o MEEEEEUUUU médico????? Ó céus!? Não imagino!!!
Eu sempre falei que centro cirúrgico era só para os partos... quantos fossem... quantos!!!
E agora o centro cirúrgico não terá mais aquela delicadeza da chegada... de um presente - um filho! E sim de uma perda existencial! A perda do meu órgão vital! Do meu centro de forças... do meu Eu!
Sairei do centro cirúrgico não mais com um filho, mas sem a possibilidade de tê-los! Porém, sairei de lá com Vida... com a minha vida passada à limpo. Como quem arranca a folha de um caderno e refaz toda a lição! Toda a lição da vida!
Sairei de lá como uma outra Katia! Uma Katia diferente no seu interior, na sua alma, no seu olhar de mundo...
E isso me fez lembrar uma frase muito linda que ouvi num dos filmes que compramos para o nosso Carnaval. "Sairei dessa vida da mesma maneira que entrei: sem roupa e sem nada, apenas com a minha estória!" (acho que é isso) É do filme "O curioso caso de Benjamin Button". Muito bom! Assistam!
Sim, pensei naquele momento da frase, nesse meu dilema... sairei sem nada e acrescento...sairei até mesmo sem o meu corpo... ele fica, ele se decompõe, ele é perecível... ele não me pertence por inteiro... ele é um empréstimo!
Seguirei apenas com minha estória, com o que fiz da vida, dos outros, das pessoas... e de mim mesma!
Seguirei ...
Seguirei ainda fazendo e escrevendo a minha estória... a minha estória que não tem fim. A estória de tantos Fevereiros que ainda virão... de tantos Carnavais e filmes.
Não importa o que aconteça nos meus Fevereiros... eles sempre serão de Carnaval, porque o meu dia é Agosto!

3 comentários:

Tarsila disse...

Parabéns mais uma vez!!! Bom Carnaval!!! bjssss

Ana Maria Dindinha disse...

Mais uma vez, Deus mostra toda a sua sapiência.... Duda, a filha tão sonhada, veio antes da agora inevitável, retirada do orgão que a traria como filha de sangue.
É por isso que eu sempre digo: "o que Ele decide, eu não questiono."

Carpe Diem disse...

Katinha menina, teus escritos são compartilhados por aqueles que rejeitavam qq remédio, até de dor de cabeça. Porém depois da quimioterapia toma qq aspirina. Me incluo nessa. E a Iluminadinha é um grande presente com certeza. Lindo, Kátia, te digo menina mais uma vez pra mim não está sendo fácil. Desculpa coisas de memória e de está longe.Beijão