Meu doce outono

O outono é uma estação do ano um tanto quanto desprezada, pois o verão é a estação da beleza, de corpos sarados, bronzeados... esculpidos.

Já o inverno é a estação do aconchego diante da lareira e acompanhado de vinhos ( para quem gosta) e muito fondue em lugares românticos...bem coisa de filme!

Para mim é a estação de muita elegância...adoro inverno... amo as roupas de inverno!

Quase nunca as consigo usar.

Contraditório morar no Rio de Janeiro... eu deveria morar no Sul do Brasil!!! Mas... aqui é o meu lugar.

Já a primavera! Nossa! A primavera... tempo das flores, dos perfumes e de um clima tão bucólico no ar. A primavera inspira tudo e todos.

Mas e o outono???

Ninguém parou para pensar que é no outono que as árvores permitem perder toda a sua beleza, para que no inverno os amantes não desejassem namorar nos frios dos parques e preferissem o calor dos lares????

Ninguém pensou que as árvores perdem suas folhas para que elas possam renascer mais vistosas e frondosas na primavera, permitindo que as crianças possam correr nos parques enquanto seus pais as observem nas sombram que elas proporcionam????

Ninguém pensou que é no outono que a natureza se recolhe num ato de resignação para oferecer o que há de melhor nas próximas estações???

Assim é o outono e assim é o meu corpo diante da quimioterapia. É como numa estação de outono que meu corpo perde seus cabelos num ato de renovação para a vida, num ato de buscar nas minhas essencias vitais a força necessária para se recolher no inverno, florescer na primavera e brilhar no verão!

Minhas madeixas, antes meu maior bem material/corporal, eu diria.

Mas, magnificamente em novembro passado bateu uma loucura e quis cortar aqueles lindos cabelos... tão tratados!

Foi um surto também motivado por Marcelo. Queria eu, cortar bem curto (como cortei na semana que comecei a quimioterapia) mas minha cabeleleira não quis...relutou e fez um chanel... detestei, mas nada para fazer, senão cortá-lo até me achar naqueles fios.

Depois disso cortei umas três ou quatro vezes sem sucesso...não era aquilo o que eu queria.

Mas naquele instante já começava um desapego ao qual seria necessário para esse momento que acreditei que seria difícil, mas não foi... me surpreendi!

Tudo começou no domingo, quando passava as mãos nos cabelos e alguns fios se perdiam.

Fui deixando pelas ruas, pela casa o sucesso da quimioterapia. Sim, o sucesso porque quando os cabelos caem é sinal de que o tratamento está fazendo efeito! Ufa! E isso eu descobri na consulta com o meu médico/oncologista na consulta de avaliação.

Quando percebi que o meu outono havia chegado, logo aproveitei que o Marcelo havia retornado ao trabalho para ajudar a minha natureza... liguei para o meu irmão mais velho pedindo sua máquina de cortar cabelo e sua ajuda, porém ele surpreso e acho que amedrontado se recusou, assim como minha mãe, mas creio que para mãe seja mais difícil mesmo.

Tomei a decisão e fui ao salão onde frequento, pois minha cabeleleira só poderia na quarta feira à noite e depois de combinar com ela por telefone, percebi que quarta feira seria tarde demais...

Lá fui eu e passei máquina 2 e não é que adorei!!!

Adorei! Levei um de meus lindos lenços, porém com o novo visual os mantive na bolsa...mas a alegria durou pouco mais que duas horas hehehehehe

Um pouco antes de ir ao médico percebi que as minhas micro madeixas caiam como folhas ao vento...

Precisei tomar um outro banho a fim de remover o que caía e assim cada vez mais meu jardim dava espaço a renovação ou melhor ao preparo para a minha doce primavera.

Fui para a Clínica e lá tive a notícia de que o meu outono era a melhor das estações que eu poderia viver naquele momento de ainda verão.

Outono... meu doce outono!